Minas Gerais produz as melhores marcas de aguardente de qualidade do país, embora para completar os 155 milhões de litros que consome anualmente tenha que recompor a outros mercados, principalmente de São Paulo, dos quais importa 55 milhões de litros. O resultado é uma evasão de divisas estimada em U$ 30 milhões.
Essas e outras conclusões fazem parte do estudo ”Aguardente em Minas Gerais – Estudo Setorial”, realizado pelo INDI em 1982 e a partir do qual se desencadeou uma série de atividades para revisão dessa realidade.
Desde 1982, num trabalho que se estendeu até ano passado, o órgão assistiu e apoiou diretamente nada menos que 80 projetos de aguardente. Isso sem considerar que o efeito multiplicador de publicações em jornais e revistas e as demonstrações dos projetos assistidos possam ter contribuído para implantação estimativa do próprio INDI – de aproximadamente 400 outros projetos no mesmo período.
Esse segmento é o mais dinâmico do setor agroindustrial do Estado. Cerca de duas mil unidades distribuídas pelo território mineiro colocaram anualmente no mercado uma produção que atinge 100 milhões de litros, o que equivale a cerca de U$ 90 milhões.
Quase toda a produção é processada artesanalmente através de fermentação natural do caldo de cana, por meio de destilação lenta em pequenos alambiques instalados em propriedades rurais de médio e pequeno portes. Essa é uma das principais causas do sucesso da aguardente mineira.
Por outro lado o setor é responsável pelo emprego direto de aproximadamente 20 mil pessoas na fase de produção, o que constitui fator importante para fixação do homem no campo. Além disso, esta é uma atividade desenvolvida no período de entressafra de outras culturas, contribuindo para minimizar os efeitos danosos da sazonalidade na ocupação da mão-de-obra rural.
A produção de aguardente integra-se perfeitamente as atividades agropecuárias. Pode-se aproveitar o subprodutos da cana, como a ponta, o bagaço e o vinhoto, na alimentação suplementar do gado bovino no período seco do ano e também na produção de adubo orgânico.
Na verdade, o desenvolvimento da agroindústria no Estado tem o marco: A criação, como o apoio do INDI, em 1988, da AMPAQ (Associação Mineira dos Produtores e Aguardente de Qualidade) e da EMAQDE (Engarrafadora Mineira de Aguardente de Qualidade), ambas sediadas em Sabará. Essas instituições vieram contribuir para a representatividade, a dinamização, o aumento do valor agregado, a expressão da produção e a comercialização do produto. Além disso, visam também tirar da clandestinidade os produtores mineiros de aguardente, incentivando a legalização de suas fábricas e permitindo a livre negociação da bebida, colocando-a à disposição dos consumidores nas prateleiras dos supermercados.
A aguardente produzida pela AMPAQ e engarrafada pela EMAQDE, denominada ” Arraial Velho”, já está sendo comercializada com padrão de qualidade garantido pela Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC) e Fundação Ezequiel DIAS (FUNED), responsáveis pela análise química e sensorial das aguardentes mineiras. A padronização para o mercado de exportação será assegurada pela Comissão de Estudos de Aguardente, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Além dessas entidades o setor está agora amparado pelo CPTA (Centro de Pesquisa e Tecnologia de Aguardente), pela EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) e pelo Programa de Pesquisa da de Aguardente, que envolve o CETEC, FUNED, Universidade Federal de Minas Gerais, a Universidade Federal de Viçosa, a EMATER (Empresa Mineradora Mineira de Assistência Técnica e Extensão Rural), a EPAMIG, a AMPAQ, a EMAQDE e o próprio INDI.
Dessa maneira, o setor passa a contar com maior apoio tecnológico, consequente melhoria no processo de produção e no próprio produto e ter maior competitividade nos mercados interno e externo, alcançando, assim a autossuficiência.
Com base numa comparação entre valores de produção, José Carlos G. Machado Ribeiro, engenheiro agrônomo do INDI e também presidente da Comissão dos Estudos da ABNT, acredita que ” num horizonte de cinco anos, o setor de aguardente de qualidade do Estado alcançará tanta representatividade quanto os de café, leite e carne”.
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