Em Defesa da Boa Qualidade

A velha e saborosa cachaça mineira luta para não morrer. Hoje, dos 120 milhões de litros consumidos por ano em Minas, perto de 50% vem de outros Estados, principalmente de São Paulo. ”E o pior é importarmos uma cachaça de qualidade muito inferior a nossa”, assegura Acácio de Paula Filho, de família tradicional produtora de aguardente em Lagoa Santa – a conhecida Balança mas não Cai ”- eleita a semana passada presidente da – Emaque – Engarrafadora Mineira de Aguardente de Qualidade de Ltda. A empresa entrega um antigo projeto, apoiado pelo INDI, que reúne 29 produtores e se propõe a manter a fama de uma boa cachaça, incrementar a produção artesanal e retirar os pequenos da clandestinidade.

A Emaque nasce com capital de Cz$4,2 milhões – rateado entre 29 produtores- sede em Sabará e a meta de produzir 2 milhões de litros/ano de uma cachaça ” especial”. Falta batizá-la. O início da operação está previsto para julho próximo e o financiamento de cerca de Cz$ 70 milhões, para consolidação do projeto e aumento de capacidade asseguradas junto ao BDMG.

Integrou também o projeto a criação da Associação Mineira dos Produtores e Aguardente de Qualidade – AMPAQ – por enquanto os mesmos 29 produtores e a função de fornecer o selo de qualidade da cachaça, a partir dos estudos de padrões de fermentação e testes químicos e de aroma Sabor e efeitos A Diretoria da entidade também foi eleita, em assembleia, no INDI na última semana, tendo a frente o produtor Walter Caetano Pinto.

Bebedor de Cachaça

O projeto nasceu de estudo sobre a aguardente mineira realizados no INDI desde 1982, sempre sob a coordenação do apaixonado agrônomo José Carlos Gomes Machado Ribeiro, que diagnosticou os problemas da comercialização do produtos de Minas. Indústrias médias e grandes, produtores de aguardente e larga escala, dominam o mercado. Enquanto isso, relata José Carlos, cerca de 1500 pequenos e micro produtores esbarram em inúmeras dificuldades para engarrafar sua cachaça artesanal, de melhor qualidade, produzida dos alambiques. Resultado: Acabam por vendê-la a pequenos amigos e fazendas vizinhas, bares e restaurantes que revendem em doses.

O maior entrave para concorrência são os custos, conta o agrônomo. A aguardente Paulista chega aqui para o comércio a Cz$ 8,00 o litro, e o pequeno produtor não consegue fabricá-las por menos de Cz$ 25,00. A saída foi reunir os produtores interessados e, a partir de seu ”know know”, produzir uma única cachaça para ser engarrafado no Emaque, e uma associação que não podia integrar clandestinos… Se o preço não promete ser muito mais baixo, o objetivo agora é atingir uma outra fatia de mercado e deixar a clandestinidade: ”Trocar os galões de plásticos levados aos botecos por garrafas com selos de qualidade”, lembra José Carlos.

Faz parte dos planos, inclusive, alterar um pouco do hábito e perfil do bebedor de cachaça. “Não precisa ser aquele que joga goela abaixo, depois de um pouco para o santo’. A boa cachaça pode ser curtida com prazer, até com gelo, como se bebe Whisky e não apenas para se embebedar, sustenta ele. Lembra que está cachaça de qualidade, encontra nos balcões do Mercado Central, por exemplo, não está nunca nas prateleiras dos supermercados. ” lá ficam as Paulistas” diz.

Festival

O principal para uma boa aguardente, produzida em alambiques e sem produtos químicos – fermentada com fubá – está no processo de destilação e fermentação sempre lento, ensina o agrônomo do INDI. Se a produção industrial alcança a escala de até 160 litros por tonel da cana nas grandes destilarias, os pequenos chegam ao exagero de 100 litros por tonel, ficando a média em 80 litros.

José Carlos assegurou que fortalecer o segmento dos pequenos produtores não significará correr o risco de torná-los ”grandes” e esquecidos destes macetes para uma produção em larga escala. O estatuto, da entidade foi todo amarrado para impedir isso. Admite. A entidade e a engarrafadora dos produtos de aguardente, que nascem em 29 associados apenas, mas prometem crescer e prestar serviços a todos setor, limitam seus sócios aos que produzem o máximo de 3 mil litros/dias, em alambiques e sem a utilização de produtos químicos.

A ” Balança mas não Cai ” é a ” Forma de Rampa ”, produzidas pela família Acácio de Paula há 30 anos, numa média de 1.000 Litros/ dia, preparam-se para ser uma das primeiras fregueses da Engarrafadora da Mineira de Aguardente de Qualidade Ltda. O presidente da Emaque conta que, motivado com o projeto, suspendeu a produção mais cedo um pouco de 87 – geralmente paralisadas de dezembro a maio (entressafra) – para que retomá-la apenas em Julho, quando a fábrica de Sabará estiver operando.

Sabará também se entusiasmou com o projeto: o município, que sedia um ” Festival de Cachaça ” nos próximos dias 6 e 7 de Fevereiro, foi escolhido pela própria tradição e empenho da Prefeitura Municipal, que acendeu com a proposta de doação do terreno para a instalação da engarrafadora.

(Cândida Canedo)

Diário da tarde 01/89

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