Por Silvio Ribas de Belo Horizonte
Cachaça é artigo fino em Minas Gerais. A bebida deixou as prateleiras de antigas vendas do interior para ser oferecida em restaurante de luxo nas capitais. Algumas marcas, como a Havana, fabricada em Salinas, chegam a valer quase três vezes o preço de um litro de whisky importado. Seu fabricante é um ilustre desconhecido que jamais bebeu aguardente e que paga seus empregados com sua valiosa mercadoria. A lenda em torno das pingas mineiras se justifica. ” Quem vende sabe que uma boa cachaça tem de ter uma boa estória ”, afirma o Presidente da Associação Mineira de Produtores de Aguardente de Qualidade (AMPAQ), Alexandre Figueiredo.
Ele explica que a produção de Minas está longe de sair da vice-liderança, mas são as opções de qualidade e seu grande diferencial de sucesso no mercado. Dos estimadas 6,5 mil pequenos produtores no estado, apenas 320 estão legalizados. O Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (INDI – MG) estima que o segmento movimenta R$ 300 milhões só em comercialização, envolvendo 65 mil trabalhadores diretos e 195 mil indiretos. São Paulo lidera produção nacional com 800 milhões de litros anuais. Minas Gerais produz 170 milhões e tem que importar, pois produz 76% do que consome. Segundo o presidente da AMPAQ, entidade criada há 10 anos e que reúne 200 sócios de todo estado, ” a cachaça é o antes de tudo um artefato da cultura brasileira”, envolvendo ainda aspectos industriais, mercadológicos e sanitários. É considerado produtor artesanal quem fabrica de 20 a 1 mil litros por dia. Para entidade, além do limite de produção, artesanal é caracterizado por uma alambique Tradicional em cobre e que não tenha uma coluna de destilação. Para divulgar suas marcas, a Associação realiza anualmente um festival. Este ano, o evento se transferirá, no próximo mês, de Sabará para capital.
Selo de qualidade
Associação certifica suas associadas com selo de qualidade, após o julgamento de uma comissão fiscalizadora formada por técnicos de oito fabricantes. Após consolidar o selo, a AMPAQ pretende instituir um certificado de origem estadual para evitar a ” deturpação da fama adquirida”, caracterizada pelo engarrafamento, em Minas, de cachaça de outros estados ou pela indicação de vida dá procedência de cidades mineiras famosas possuídas aguardentes. Figueiredo esclarece que sucesso como de Salinas não podem ser explorados por terceiro.
A cidade que foi favorecida nos anos 80 pelo rigor da fiscalização contra destilarias clandestinas, tornando-se por um tempo fabricantes exclusiva de cachaças de qualidade no Estado.
Sorte igual não tiveram as cachaças de Curvelo. O meteórico crescimento da demanda pelas marcas Correinha e século XX não foi acompanhado pelo aumento da produção. A solução encontrada nos dois casos foi completar a defasagem com volumes de terceiros também engarrafados na cidade. A queda de qualidade espantou os consumidores.
A Entidade promete outras medidas como lançamentos de uma garrafa padrão para marcas filiadas, que identificará a cachaça produzida em Minas. Com design único, o frasco servirá para incentivar a exportação da cachaça mineira ao facilitar a soma da produção de pequenos alambiques, em busca de uma escala para comercializar. Além disso, prepara-se a divulgação de um roteiro turístico da cachaça mineira, que inclui visitas a monumentos históricos, parques ecológicos e, naturalmente, alambiques.
Criado em 1982, o programa da valorização da aguardente mineira, coordenada pelo INDI MG, com sustentação Técnica das universidades e da Associação Brasileira de normas técnicas, se tornou um dos principais incentivos para atividade. Nos últimos 14 anos, o número de pequenos alambiques saltou de 1,5 mil alambiques, que produziram 45 milhões de litros de aguardente, para as atuais 6,5 mil. Na visão da Ampaq, a produção de cada fabricante só deve ser aumentada com a mobilização de novos ambientes.
De acordo com o engenheiro agrônomo do INDI-MG, José Carlos Gomes Machado Ribeiro, a destilação artesanal da cachaça possibilita uma integração perfeita com as atividades de uma fazenda, como o tratamento do gado com subprodutos do aguardente ou a fabricação de húmus para adubar os cafezais.
Para ele, cabe ao governo investir em pesquisas, fiscalização e apoio a comercialização. ” A valorização do produto passa pelo maior cuidado e tecnologia na sua produção e de uma melhor divulgação. Para o produtor viva tudo conta, desde o equipamento, até a forma de envelhecimento da bebida, solo, variedade e tratamento do canavial ”, diz.
Estado de Minas
1996