Se você é amante de uma pura e gostosa aguardente, certamente já teve o prazer de provar a pingo mineira. Se não experimentou sequer uma dose, pelo menos já ouviu falar maravilhas a seu respeito. Considerando o Estado que produz a melhor cachaça do país, Minas Gerais quer, de fato e de direito, justificar seu cartaz. Com o projeto de caracterização, a ser executado nos próximos dois anos, aguardente mineira finalmente passará a ser classificada de acordo com a qualidade.
Com o objetivo de atualizar o sistema e a tendência de produção da aguardente, a ideia do projeto nasceu em 1984, na Associação Mineira dos Produtores de Aguardente de Qualidade (AMPAQ).
A caracterização será feita através do recolhimento de amostras de bebidas em todo o estado para análise química e sensorial.
Após a classificação será desenvolvido um trabalho conjunto com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para que sejam elaboradas normas para o enquadramento da aguardente nos padrões de qualidade.
” o projeto vai valorizar a bebida do mercado”, comenta Walter Caetano Pinto, representante da AMPAQ, acrescentando que a utilização de normas será fundamental no processo de caracterização da bebida.
Bom produto
Em busca da qualidade, a AMPAQ lançará daqui a dois meses seu próprio selo, certificando a qualidade da aguardente. Este selo permitirá que o consumidor com uma simples olhada no rótulo tenha a certeza de que está comprando um bom produto. Para receber o selo, segundo Walter Caetano, a aguardente passará por análise em laboratórios indicados pela AMPAQ.
O projeto, diz Walker Caetano, também possibilitará uma maior organização do setor de aguardente. De acordo com o levantamento do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais, o Estado possui cerca de dois mil produtores.
A produção atinge anualmente 100 milhões de litros, gerando 20 mil empregos diretos.
Comissão de Estudo
Instalada mais de um ano, Comissão de Estudo ” Aguardente de Cana ” (CE 13:15.01), vem estudando a elaboração da primeira Norma sobre o assunto. Na falta de uma bibliografia específica, a solução para iniciar os trabalhos foi adotar os padrões do Ministério da Agricultura, além de utilizar normas estrangeiras como parâmetro.
Para José Carlos Gomes Machado Ribeiro, presidente da Comissão, a pesquisa no setor sofre muito preconceito. ” Aguardente é uma bebida de escravos, do meio rural. Só agora atingiu outras classes, daí ainda a dificuldade de encontrar material que sirva de base para elaboração de normas”, Justifica.
Com a criação da comissão, observa José Carlos, a situação melhorou um pouco.” Aqui se menospreze a bebida nacional. Todo país estuda sua bebida. Precisamos fazer o mesmo com a Aguardente. ” diz o presidente da Comissão. Para José Carlos, é preciso investir muito em tecnologia a fim de melhorar a qualidade e o processo de produção da aguardente.
Criar normas
José Carlos considera a produção do projeto de caracterização da aguardente mineira um marco para o desenvolvimento da pesquisa no país. ”Este trabalho é importante para a comissão”, considera. Segundo ele, com a caracterização a bebida será valorizada no mercado. Para isso, é preciso criar normas, visando alcançar um bom padrão de qualidade”, diz.
Além de normas, comissão está elaborando o manual que fala desde o plantio da cana até a fabricação da aguardente. O presidente informa que a comissão, formada por representantes de instituições como a Universidade Federal de Minas Gerais, a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC) ; e a Fundação de Apoio à pesquisa do Estado de Minas Gerais, está aberta a participação de todos. A comissão está se reunindo na Delegacia Regional de Minas Gerais, na Rua da Bahia, 1148/ Conj 1015. O telefone para contato é: (031)226-4396 ou (031)34-4466- ramal 127.
Boletim ABNT/ Janeiro 1991/19