”Se tem uma unanimidade brasileira, ela tem cheiro, gosto e nome: Cachaça. Prova disso é que o Brasil é o maior produtor e o maior consumidor dessa bebida, que varia de qualidade e de invólucro conforme o bolso gosto do freguês, mas que encontra adeptos em todo o território nacional.”
Mas se São Paulo é o berço da cachaça, em Minas ela prosperou e ganhou status de bebida fina. ” Amaciada ou envelhecida”, ela já conquistou um lugar de destaque nas prateleiras das adegas de todo mundo e, segundo os aficionados, sem nada a dever aos destilados escoceses.
Todos os anos são instalados cerca de 400 novos alambiques no estado, de onde jorram 140 milhões de litros de bebida. Uma produção insuficiente para atender a demanda dos mineiros, maiores consumidores de cachaça do país, que importam outros 40 mil litros de São Paulo. Mas cachaça não é só trazer, é também um bom negócio.
Segundo o diretor da AMPAQ, e engenheiro agrônomo do INDI, José Carlos Ribeiro, o setor registrou um crescimento de 15% ao ano na última década. ‘Há um nicho de mercado que valoriza a cachaça de qualidade, pessoas dispostas a pagar um preço mais alto pelo prazer de degustar uma boa aguardente ‘, constatou Ribeiro.
E parte de Minas um movimento de valorização de aguardente, organizado pela AMPAQ, que quer tornar o estado reconhecido em todo mundo, como a terra da cachaça de qualidade. Para isso a entidade pretende encaminhar amostras da bebida para outros países, com Paraguai, Bolívia, Argentina, Chile, Estados Unidos, Alemanha, Itália França, Portugal e Japão. A primeira remessa de 400 mil garrafas da cachaça de padrão internacional, com 750 ml, já está sendo testada no mercado interno.
Outra iniciativa e a organização do Festival da Cachaça em Belo Horizonte, onde a expectativa é de comercialização de 20 mil litros de aguardente, o dobro de vendas do ano passado, um negócio que deve movimentar cerca de R$ 100 mil. A cachaça de qualidade, cerca de 80% da produção mineira, já encontra consumidores em São Paulo, Rio e Brasília. O setor fatura cerca de 300 milhões ao ano, gerando 100 mil empregos diretos e outros 300 mil indiretos.
Mas 95% dos alambiques mineiros funcionam na clandestinidade, o que dificulta o controle de qualidade da aguardente produzido no Estado. Para Ribeiro, a melhor forma de combater essa prática é estimular o produtor, com uma política agrícola adequada, com apoio do Ministério da Agricultura, Secretaria da Agricultura, e com a criação de uma linha direta de financiamento para aqueles que filiar a AMPAQ. ” Não somos adeptos de políticas positivas. Queremos realizar ações efetivas para tirar o produtor da informalidade”, ressaltou.
Belo Horizonte, terça-feira, 13 de agosto de 1996