Estado incentiva a exportação de cachaça em Minas
Belo Horizonte – Dentro de alguns anos, as prateleiras do mercado internacional de bebidas – que já exibem o whisky escocês, a Vodka polonesa, tequila mexicana ou a Universal cerveja – vão acolher um produto genuinamente brasileiro: a cachaça mineira. Essa é a meta do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (INDI), órgão de fomento econômico do governo estadual, que está incentivando a produção de aguardente de qualidade superior em alambiques de pequeno porte disseminados pelo interior do Estado.
Uma amostra desse potencial está sendo degustado desde quinta-feira até hoje, no Festival da Cachaça, na cidade de Histórica de Sabará, situada na região metropolitana de Belo Horizonte. Dezenas de fabricantes de todo o estado exibe o que saiu de melhor dos seus alambiques, para que um júri escolha campeão das caninhas.
O engenheiro agrônomo José Carlos Ribeiro, responsável pelo setor INDI, estima que a produção mineira poderá saltar para 150 milhões de litros até meados da década, com um volume anual de negócios de Cr$ 45 bilhões, o que renderia ao estado Cr$ 8 bilhões de ICMS.
Nos últimos anos, o INDI prestou assistência direta uma centena de novos projetos de alambiques, de pequeno porte, com produção diária de 300 a 1 mil litros, empregando em média 10 pessoas cada. O organismo está capacitado a orientar os investidores, desde a captação de recursos financeiros até os detalhes técnicos, como o plantio da cana-de-açúcar, escolha dos equipamentos, bem como à venda do produto.
Interesse – O interesse do Instituto pelo setor surgiu 1982, ao se constatar que, segundo números do então Instituto do Álcool e do Açúcar (IAA), havia 1500 alambiques em Minas. O organismo fez um primeiro estudo setorial sobre a aguardente verificou que a produção ainda se mantinha em bases praticamente artesanais, ao mesmo tempo que o estado tinha fama de fabricar a melhor cachaça do país. Ainda assim, metade do consumo Mineiro provinha de pingas fabricadas industrialmente, em larga escala, com qualidade mais acanhada. Levantamento feito, na época, em dez supermercados de Belo Horizonte, apontou uma predominância de marcas Paulistas, lideradas pela Pirassununga 51.
” A fabricação de aguardente era um setor marginalizado, cujo produtores não gozavam de bom conceito e nem recebiam financiamento de banco”, lembra-se José Carlos Ribeiro. O INDI apostou no setor e, aos poucos, a situação começou a se reverter.
Hoje, por exemplo, o banco de desenvolvimento de Minas Gerais financia projetos de instalações de alambiques, restaurantes finos já oferecem a branquinha, lojas de bebidas importadas a incluem nos estoques e há meia dúzia de lojas especializadas somente em cachaça de boa qualidade, como a empresa Alambique.
O INDI apoiou também a formação da Associação Mineira dos produtores de aguardente de qualidade (AMPAQ), que reúne 30 fabricantes, com objetivo inicial de colocar no mercado blend rotulado de Arraial Velho, engarrafado em Sabará, com um mínimo de seis meses de envelhecimento. Além disso, a AMPAQ instituiu um selo de qualidade, a ser conferido aos produtos de primeira linha, depois de analisados por órgãos de pesquisa e Laboratórios.
Entre eles, certamente há um horsconcours : a marca Havana, tida como a locomotiva das aguardentes brasileiras e produzidas na cidade de Salinas, a 670 quilômetros de Belo Horizonte, no Norte de Minas, onde o clima seco favorece a qualidade. Uma garrafa de Havana de 600 ml, semelhante a de uma cerveja, custa Cr$ 6 mil.
Jornal do Brasil
02/91
Flamínio Fantini