A cachaça de Minas Gerais, que em 90% dos casos ainda é produzida clandestinamente, passa agora a ter uma comercialização mais profissional. Já está funcionando em Sabará a Bolsa de cachaça, uma iniciativa da Associação Mineira dos Produtores de Aguardente de Qualidade (AMPAQ), que pretende impulsionar os negócios através do Arraial Velho, marca lançada no mercado no final do ano passado.
O engenheiro agrônomo e técnico do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais, José Carlos Gomes Machado Ribeiro, informou que a bolsa está funcionando em caráter exemplar e, no início de Janeiro, já havia 10 corretores credenciados. ” Dentro de três meses teremos uma posição sobre aceitação do Arraial Velho e estará regulamentado o selo de garantia de qualidade a ser fornecido pela AMPAQ. A partir daí, a bolsa poderá se estruturar de fato”, explica.
A Arraial Velho é uma nova marca de aguardente de qualidade engarrafada com produto fabricado em trinta alambiques diferentes, todos com capacidade para no máximo 3 mil litros por dia.
De acordo com Machado Ribeiro, no início de Janeiro já haviam sido vendidos, efetivamente, 2,16 mil litros de Arraial Velho, com menos de dois meses de lançamento da marca.
Poderão adquirir cachaça na bolsa apenas atacadista de aguardente e engarrafadores, e os sócios terão, Obrigatoriamente, de estar filiado a AMPAQ, que ficará encarregada das análises para garantir a comercialização apenas de aguardente de qualidade artesanal. ” O volume ofertado, preço, prazo de entrega e condições de pagamento vão ser definidos pelo próprio produtor. A bolsa vai servir para centralizar e facilitar os negócios. Dos 90 milhões de litros de cachaça produzidos por ano em Minas Gerais, cerca de 70 milhões de litros são de fabricação artesanal. Esperamos que com tempo todo este volume seja canalizado para bolsa”, afirma o agrônomo do INDI.
No momento, a bolsa está funcionando no imóvel alugado pela AMPAQ, em Sabará mas, dependendo do ritmo dos negócios, a estrutura terá de ser ampliada, acrescenta Machado Ribeiro. ” No início, a própria Engarrafadora Mineira de Aguardente de Qualidade Ltda, criada por integrantes da AMPAQ, vai absorver a oferta. Associação de produtores, que não têm fins lucrativos, dentro de alguns meses terá recursos suficientes para administrar com tranquilidade este programa de aguardente de qualidade, pois cada selo fornecido por ela custará cerca de Cr$ 18.”
O programa para fabricação de aguardente de qualidade vem sendo desenvolvido pelo INDI desde 1962 e culminou com o lançamento, em dezembro, da Arraial Velho. De acordo com Machado Ribeiro, as perspectivas dessa nova marca de cachaça estão levando muitos produtores AMPAQ e já há seis projetos para instalação de novas engarrafadoras no estado.
”Esse programa vai reduzir a fabricação clandestina de aguardente”, garante ele, revelando que a prova de degustação da Arraial Velho foi surpreendente. ”A aguardente não perde o sabor quando é tomada com dois cubos de gelo”. Conseguimos isso através do processo de envelhecimento e vamos apurar essa característica, que vai mudar o hábito de beber cachaça”, promete.
Por Elizabeth Rosa de Belo Horizonte
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